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  • Pelotas, Opinião | 06.02.2016 - 19h08

    O jogador de pôquer e a política: o dobro ou nada pelotense

    Rubens Spanier Amador

    O “jogador de pôquer” que pagou a reforma de uma ala da pediatria do Pronto Socorro rende uma crônica. Desde que apareceu no facebook, soou esquisito. Aqueles jogadores são especialistas em esconder as emoções. Nosso benfeitor do PS, não.

    Em janeiro passado, diante da diretora do Pronto Socorro, o homem apresentou credenciais assim (de “jogador de cartas”) e, como um bom cristão, anunciou-se não só “preocupado com a saúde alheia", mas "interessado em ajudar o próximo". Oferta aceita, dias depois, reapareceu com dois pedreiros + material e a obra foi feita, projetando no ar um q de constrangimento. Afinal, ajudou a saúde, área que o prefeito diz ser sua prioridade.

    Se a autêntica benemerência impõe discrição, não foi o caso, pois logo a contraprova da ajuda surgiu nas redes sociais, em texto e imagens. Numa foto, surreal, o homem aparece de óculos escuros, cabeça coberta por capuz, tendo em frente uma pilha de fichas e, na mão direita, duas cartas 7, que é o número do Partido Solidariedade - 77.

    Não devemos nos surpreender se o abençoado vier a ser, por exemplo, candidato a vereador... Pode até não ter a ver com política; no fundo, pode ser que tudo não passe de uma incrível coincidência, além da confirmação do Dedo de Deus operando através dos homens, mas é impossível fugir da conexão com a política, também conhecida como “janela de oportunidades”. 

    Todo político (na verdade, todo o ser inteligente), mesmo que não queira, é ou torna-se cínico, pois, no ambiente movediço da vida em público, logo aprende que o sucesso é efêmero e o aplauso, covarde. 

    Como se dá em outras áreas da vida em sociedade, o êxito pessoal (com efeitos em escala coletiva) faz com que todos em volta se "esqueçam" dos defeitos do protagonista; fazem coro, nos aplausos, até mesmo os adversários que antes trabalhavam para impedir o êxito do vitorioso.

    É por isso que, nos momentos de triunfo, o político inteligente sorri enquanto, no íntimo, sente ecoar a certeza de que se algum dia vier a passar por uma fase difícil, os que hoje o aplaudem já não se farão presentes nem mesmo para estender-lhe a mão. 

    Bater palmas não custa nada - disso, o político bem sabe desde sempre. 

    No teatro da arena pública, há os bons atores e há os maus. Não se trata de ser bom ou de ser mau em termos morais. Trata-se de "adaptação". Os mais habilidosos - não necessariamente os melhores moralmente - são em geral os mais híbridos, ambíguos, simpáticos.

    O verdadeiro e ambicioso político adquire a frieza do jogador de pôquer; ele sabe que as emoções podem atrapalhar o raciocínio. 

    Os mais aptos são equipados também com uma peça de difícil substituição: um radar para processar os milhares de sinais em volta, além de um aguçado senso de ocasião - aquela capacidade de sentir o exato instante do alinhamento dos planetas. 

    Não é uma qualidade negativa, só uma exigência da atividade. As máscaras que o político utiliza são, por consequência, meros objetos de trabalho. Como se vê, além de ter deixado um legado de valor no Pronto Socorro, nosso simpático jogador de pôquer enriqueceu nossas metáforas. 

    O ano brasileiro começa depois do Carnaval. Já 2016, para nosso prefeito municipal, iniciou dia (2), consagrado, entre umbandistas, à Iemanjá e, entre católicos, à Nossa Senhora dos Navegantes. Cuidadoso, o tucano vestiu branco na cerimônia de raízes africanas e azul celeste na homenagem à Nossa Senhora. 

    Outro dia, ergueu ao céu o contrato inédito na cidade de prestação do serviço de transporte coletivo, um feito histórico – aquela coisa dos planetas alinhados. 

    As crescentes salvas de palmas em torno dele parecem vir aumentando-lhe a confiança, embora, provavelmente, carregue lá dentro a frieza exigida dos verdadeiros campeões de pôquer.


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