Vinícius, do MBL, e Ivan Duarte, vereador do PT

Há cenas que retratam uma época. A foto acima, por exemplo. De um lado, vereador Ivan Duarte (PT), a poucos anos de tornar-se sexagenário. Do outro, o servidor Vinícius Hax, do Movimento Brasil Livre (MBL), 30 anos de idade.

No entorno do chafariz das Três Meninas, no calçadão da Andrade Neves, Vinícius e outros jovens do MBL entregavam panfletos defendendo o impeachment de Dilma quando um grupo de petistas chegou e deu início a provocações que resultaram em constrangimentos e até agressão física.

Por mais que o PT pretenda impedir o contraditório, por mais que insista em deter o fluxo da história, a vida se renova e, como ensinam os orientais, é preciso morrer para renascer, às vezes morrer muitas vezes ao longo da existência.

Duarte, como seus colegas de bancada na Câmara, não tem o hábito da autocrítica partidária, mas nessa altura é óbvio que o PT sujou as mãos com propósitos totalitários, em escala jamais vista. Já Olívio Dutra, em entrevista a Roberto D’Ávila, travou a voz e encheu os olhos de lágrimas antes de lamentar os descaminhos de seu partido. 

Olívio vive numa residência modesta. Ao contrário de Lula, não enriqueceu com a política e, outro dia, recebeu uma coronhada na cabeça de um assaltante dentro de um ônibus. 

Não se viu viva alma petista local se solidarizando com Olívio, mas as vemos defender Lula e Dilma, além de tentar inibir a voz dos que desejam democraticamente o impeachment da presidente.

Há mais de 30 anos, o PT dava concorridos jantares de adesão a postulantes a vereador. Ivan Duarte era então um jovem universitário. Já o quase sexagenário que vemos na foto acima, durante o conflito protagonizado por gente de seu grupo, ao ponto de socarem um rapaz do MBL, é uma pessoa diferente.

Duarte envelheceu sem perceber, assim como o PT. É um processo que ocorre à maioria de nós, que em geral por fatores atávicos nos convencemos de que é possível resistir à marcha dos tempos, adiar a nossa morte e, paradoxalmente, o nosso renascimento. A ideologia, contudo, não pode ser uma prisão, senão ela nos pune com o deslocamento e, em alguns casos, nos transforma em zumbis.

O PT lembra uma passagem do conto Mata-Moscas, de Lourenço Cazarré. Mesmo sabendo que morrerão sob o golpe do instrumento, se descerem para se lambuzar no mel, ainda assim as moscas descem. Os homens não conseguem se livrar de seus vícios, felizmente nem mesmo do vício da mudança.

O rapaz que ergue o dedo para se contrapor ao vereador é a imagem da vida se renovando: uma nova geração prenhe de indignação e esperança, como um dia aconteceu aos petistas.