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Para evitar a recessão
Uma vez os estudantes de Direito fizeram camisetas com os dizeres “Se o seu namorado não faz Direito, eu faço”. Os da Publicidade então lançaram a sua, “Não basta fazer direito, tem que ser criativo”. A malícia universitária serve de metáfora para a crise do governo gaúcho, acusado de não fazer direito, nem ser criativo, ou seja, de ser insensível e incapaz.
Não pagar os salários em dia atinge diretamente milhares de servidores e indiretamente mais de 10 milhões de gaúchos, pois havendo menos dinheiro em circulação, o comércio e a indústria também são atingidos e se retraem. Não é preciso ser economista para compreender o óbvio, que isso gera um ciclo recessivo, tanto quanto uma pessoa que come menos, emagrece. Na metáfora, não um emagrecimento saudável, mas sim um daqueles com risco de anorexia nervosa.
Mesmo os economistas que ressaltam o papel do “mercado” reconhecem que o Estado contemporâneo também tem um papel importante na Economia, como “indutor do desenvolvimento”. E quando a economia mundial entrou em crise, em 2008, foi fundamental o papel de Obama aumentando a dívida pública dos Estados Unidos para injetar dólares em setores estratégicos para a economia americana.
Governos gaúchos anteriores, em crises semelhantes, usaram a criatividade tal como no episódio do “empréstimo do Banrisul”, o governo se responsabilizava pela operação de modo a que os servidores não pagassem juros para receber o complemento de seus salários com esse artifício bancário. O lucro líquido do Banrisul caiu para 691,4 milhões em 2014, uma queda de 12% devido a aumento de despesas, mas esses cerca de 700 milhões de lucro líquido (ou seja, já descontadas todas as despesas) não são uma margem tão pequena que impeça o governo de usar o banco como forma de evitar tendências recessivas na economia gaúcha, para cobrir emergencialmente o que falta no 1,8 bilhão mensal da folha de pagamentos. Já foi feito e deu certo, nem precisa tanta criatividade assim para repetir uma medida que já evitou a recessão no passado.
A prefeitura de SP e depois o governo do RJ conseguiram liminares na Justiça contra a dívida com a União, poupando bastante dinheiro em juros com tais medidas, muito justas por sinal. Porque o governo gaúcho não recorreu a qualquer destas alternativas citadas a título de exemplo, como saída emergencial para honrar o salário integral de seus servidores? Seria verdadeira a acusação de desmonte do Estado para justificar privatizações que beneficiariam grupos econômicos, ao invés da população? A maior revolta contra Sartori não é a da oposição, mas sim a dos seus próprios eleitores, quase 2/3 dos gaúchos, que esperam que ele faça direito e seja criativo.