-
Cultura | 05.03.2016 - 14h34
Spotlight, merecido melhor filme do Oscar
Baseado em uma história real, Spotlight: Segredos Revelados mostra a equipe de jornalistas do jornal Boston Globe conhecida como Spotlight. O grupo é formado por Mike Rezendes (Mark Ruffalo, ótimo), Sacha Pfeiffer (Rachel McAdams) e Matt Carroll (Brian d’Arcy James), chefiados pelo editor Walter Robinson (Michael Keaton). Durante o ano de 2001, eles descobriram inúmeros casos de abuso sexual de crianças por padres católicos. Durante anos, líderes católicos ocultaram o caso, ao invés de punir os responsáveis.
A reportagem, vencedora do Pulitzer, teve repercussão mundial e contou com uma equipe focada e comprometida com a investigação das denúncias ocorridas em Boston. Vale lembrar que a cidade é dominada pela doutrina católica, porém este fato não intimidou os jornalistas. Afinal, a pedofilia por si só já é terrível, e quando cometida pela igreja católica, que se aproveita da fé de pessoas ingênuas e desprotegidas, torna os atos ainda mais imperdoáveis.
Estatísticas e histórias assustadoras cercam as vítimas, em um misto de repulsa e fé inabalável. Notou-se que havia um padrão. Os abusados pertenciam a famílias pobres e problemáticas, e o ataque vinha daqueles que eles mais confiavam. As descobertas vieram à tona através da revisão de matérias antigas publicadas pelo próprio jornal, e o recontato com um grupo de ajuda e com os advogados do caso. A investigação acaba descobrindo como que os padres eram “afastados” de seus cargos após denúncias.
Se o longa possui um vilão, ele é a igreja católica. Não como instituição de fé, mas sim como um sistema que protege de forma eficiente os padres abusadores. Com artifícios como trocá-los de paróquia e pagar taxas ridículas de indenização, a igreja mostrou-se uma desmerecedora da fé de seus seguidores.
O diretor Tom McCarthy, de bons filmes como O Agente da Estação e O Visitante, citou vários filmes como influências para este projeto, entre eles: Todos os Homens do Presidente (1976), Nos Bastidores da Notícia (1987), O Informante (1999), Boa Noite e Boa Sorte (2005) e Frost/Nixon (2008). Spotlight está realmente muito bem acompanhado.
Segura, a direção equilibra perfeitamente sensibilidade com crueldade. Os fatos são minuciosamente investigados sem medir a gravidade das consequências, mas sim nos efeitos devastadores nas vítimas. Este cuidado vem principalmente de dois personagens: Sacha, que frequenta a igreja com a avó e preocupa-se com a reação dela; e Matt, pai de família que teme pelos filhos e outras crianças do bairro enquanto precisa manter sigilo das informações.
O roteiro vencedor do Oscar de McCarthy e Josh Singer explora um jornalismo feito com comprometimento e seriedade, por profissionais dedicados aos seus trabalhos e que corriam (literalmente) atrás da informação. Somos posicionados dentro da redação da Spotlight, e descobrimos os fatos junto dos jornalistas. Não há perda de tempo abordando a vida pessoal dos protagonistas, focando diretamente na complexa investigação. Eles estão determinados não em fazer a reportagem e sim em acabar com o horroroso “sistema” criado por padres e advogados.
Espetacular e eficiente, o filme expõe o abuso de menores cometido por padres católicos não somente em Boston, mas em todo o mundo, incluindo o Brasil. A matéria resultou na acusação de 249 padres e mais de 1500 vítimas na região de Boston, além da renúncia de um cardeal, que foi transferido para Roma.
Vencedor do Oscar de melhor filme, Spotlight sustenta-se pelo seu incrível elenco e por uma trama inteligente e socialmente relevante. Fundamental e imperdível.