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Vou beijar-te agora, não me leve a mal...
O carnaval pelotense deste ano, sem passarela nem desfiles de agremiações, foi uma espécie de laboratório, como dizem no teatro - um ensaio do papel que os personagens poderão vir a representar no palco.Em vez de gastar mais de R$ 2 milhões em quatro dias de festa, como fez em cada um dos três primeiros anos de sua gestão, em 2016 nosso prefeito gastou só R$ 50 mil.
Esse dinheiro financiou eventos espalhados pela cidade, um trio elétrico aqui, um conjunto vocal ali. A população, embora em pequenos grupos, aderiu, lembrando a inocência de carnavais de outros tempos.
“Carnaval é festa do povo, não festa da prefeitura, que necessite de recursos públicos...”, disse o prefeito, em vídeo oficial gravado na festa ocorrida no Mercado Central.
É uma declaração interessante, sobretudo porque é uma contradição com a prática oficial dos três anos passados e mesmo com o futuro, já que Leite outro dia garantiu já aos carnavalescos R$ 300 mil para a festa de 2017. Na verdade, é uma contradição com o presente, já que pôs R$ 50 mil na festa.
Mas o que ele talvez tenha querido dizer e não disse é que pode-se fazer mais e melhor com muito menos dinheiro. E abandonando o dispendioso modelo frio da festa em passarela cercada, com ingresso pago, uma imitação pífia da Sapucaí que nada tem a ver com a tradição do carnaval na cidade.
No final do ano passado, o tucano, que buscará a reeleição em outubro próximo, fez um anúncio que causou certo alvoroço.
Ele chamou a Associação dos Carnavalescos e avisou que só teria R$ 300 mil para os desfiles de 2016, cortando assim R$ 1,8 milhão em relação ao custo da festa em 2015. A poda foi necessária - explicou - por causa da recessão econômica e da instabilidade nos repasses federais e estaduais aos municípios.
Dirigentes carnavalescos, pra variar, correram a pedir socorro na Câmara, onde, claro, têm apoio cativo.
Leite, porém, utilizou um argumento extra irresistível para sossegar os ânimos: afirmou que transferiria aquele R$ 1,8 milhão do carnaval para a área da saúde. Coisa de profissional.
O povo assimilou essa narrativa e a questão foi superada, com os carnavalescos desistindo de fazer desfile com R$ 300 mil e pedindo para que esta verba fosse transferida para 2017, o que foi aceito.
Nada como um ano eleitoral pela frente para agitar um pouco as coisas e até quebrar alguns tabus culturais. Leite parece estar vivendo no êxtase do verso daquela antiga marchinha: “Vou beijar-te agora, não me leve a mal, hoje é carnaval...”.